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Oficinas e minicursos encerram encontro no Crato
Você consegue se movimentar, de olhos vendados e com uma bengala, em um ambiente por onde passa quase diariamente? Os participantes da oficina de mobilidade e orientação, ofertada durante o II Encontro sobre Diversidade e o I Seminário sobre Educação Inclusiva do campus de Crato, passaram por essa experiência e vivenciaram, por alguns minutos, as dificuldades de uma pessoa cega.
Integrante do Núcleo de Acessibilidade às Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas (NAPNE) do campus de Cedro, a professora Raquece Cruz ministrou a oficina. Segundo ela, o objetivo era mostrar aos participantes como é, na prática, a vida de um cego, além de ensiná-los a orientar pessoas com deficiência visual em ambientes fechados ou abertos. "A gente só consegue visualizar a vida do outro quando a gente está na pele dele. Os alunos foram recebidos na sala como cegos: eles tinham que entrar, procurar a cadeira, pegar seus calçados, que estavam todos espalhados. Foi o primeiro impacto", explica.
Eles aprenderam também como usar a bengala e como mapear o ambiente. Caminhando pelo Instituto com os olhos vendados, os estudantes tiveram dificuldades de se localizar sozinhos pelo campus. "Os alunos mostraram muito interesse e em alguns momentos ficaram perplexos pela 'incapacidade temporária'", disse a professora.
O estudante de Sistemas de Informação Anderson Brito foi um dos participantes da oficina. Ele aprovou a experiência: "Foi um impacto muito grande, porque eu achava que conhecia o lugar. Eu achava que era complicado, mas era numa intensidade muito menor do que eu pude perceber, sendo um deficiente visual por alguns minutos".
O evento contou também com minicursos de braile, libras e tecnologias assistivas, além de oficinas de gênero, sexualidade, racismo e diversidade. Técnica em assuntos estudantis do campus de Juazeiro do Norte, Léia Araújo participou dessa oficina. "A gente aprendeu, no contexto histórico, como vêm se dando essas relações de gênero. Foi uma oficina muito rica, de várias informações importantes para nós educadores e para o público em geral."
Desafios da educação inclusiva
Pela manhã, uma mesa-redonda debateu os desafios e as possibilidades para a implantação da educação inclusiva nas instituições de ensino. A mesa contou com a presença do professor Guilherme Lacerda, coordenador do NAPNE do campus de Juazeiro do Norte, e da professora Raquece Cruz, que também é uma das coordenadoras do projeto "Mãos que Incluem" do campus de Cedro. O projeto ensina Libras a surdos de todas as idades que antes não tinham contato com a língua. Integrantes da Associação Cratense de Defesa da Pessoa Surda estiveram presentes no evento. A presidente da entidade, Sônia Sales, também participou da mesa.
O debate chamou a atenção para a importância de promover uma inclusão real das pessoas com deficiência no ambiente escolar. "Inclusão é dar o que cada pessoa realmente precisa para se desenvolver e ter suas necessidades satisfeitas", explica Raquece.
Para o professor Lacerda, é necessário mais engajamento das pessoas na luta pela inclusão. Apesar dos avanços, ele explica que ainda há muito a se fazer. "Já avançamos muito em relação às barreiras da arquitetura e da comunicação, mas a falta de atitude ainda existe e é algo a ser superado. No ensino superior, 75% das pessoas com algum tipo de necessidade específica estão em universidades privadas. Isso nos mostra que, no setor público, ainda temos muito o que construir para incluir essas pessoas."
Para a organização, o balanço é positivo. O II Encontro sobre Diversidade e o I Seminário sobre Educação Inclusiva agora fazem parte do calendário de eventos do campus. "A ideia é fazer com que esses encontros sejam rotineiros", explica a assistente de alunos Lorena Kelly, uma das servidoras à frente da organização.