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Campus de Crato desenvolve nova forma de doma para cavalos
Zooequino
Um projeto inédito de estudo sobre equinos está sendo desenvolvido no IFCE campus Crato. Pensada pelo professor do curso de Zootecnia Kael Rocha, a Doma Natural ao Desmame é um projeto do grupo de estudos Zooequinos e conta com a participação de oito estudantes. O método, que tem raízes em outros tipos de doma e na reflexão sobre como melhorá-las, busca criar um vínculo real e duradouro entre o ser humano e o cavalo.
Professor e criador de cavalos, Rocha explica que a doma ainda é, em muitos casos, feita por meio da submissão. “Os cavalos na natureza sempre foram presas, então ele tem aquele instinto de defesa, sempre está em alerta. Quando a gente vem pro mundo moderno, na criação de cavalos existe a questão da doma, na qual tradicionalmente as pessoas laçam os cavalos, montam neles com esporas, e assim domam o cavalo, por submissão.”
O Instituto
Para o professor Kael, a Doma Natural ao Desmame é uma relação principalmente de amizade, na qual ambas as partes só têm a ganhar. “A importância de se desenvolver um projeto assim no instituto é imensa. O aluno aprende a respeitar e a não agredir os animais. Quando ele coloca o cavalo no redondel, ele é obrigado a dar um manejo de qualidade ao animal. Ele aprende que tem de dar bem-estar ao animal para que consiga conquistá-lo: se o animal tiver ambiência, que é carinho, boa alimentação e água, além de respeito, ele se desenvolve bem e sem traumas, consequentemente produzindo muito mais.”
Thais Siqueira, estudante de Zootecnia, fala sobre a experiência de participar desse projeto de doma: “Ainda não temos o setor de equino aqui no instituto e ter contato com essa potra simboliza o início do estudo da equinocultura para nós, graduandos. Posso acompanhar o desenvolvimento dela e cada novo comportamento, colocando em prática tudo o que vi em teoria em relação à morfologia e fisiologia dos equinos. Imagino ela como um bebê que aos poucos se tornou adolescente e tem sua vida adulta em iminência”, diz Thais. Para ela, o IFCE Crato pode vir a ser visto como um centro de pesquisa pioneiro em manejo e doma de potros ao desmame, já que o projeto está sendo bem-sucedido.
A potra, batizada de Cristal Joy, já reage bem ao contato humano. São quase 70 dias de experimento, e o animal se sente cada vez mais seguro, percebendo que os humanos não são uma ameaça.
O Projeto
A nível experimental, foi construído um redondel – espaço circular cercado com estacas de madeira e arame liso – de 4 metros de largura, e nele foi colocada a potra que havia sido recém-desmamada e nunca havia tido contato com pessoas. Ela tem água e alimento à disposição e contato com cavalos que ficam fora do redondel, para que o estranhamento ao novo ambiente não seja tão grande. Aos poucos, os estudantes entram no redondel e oferecem capim verde e coisas doces, agrados para a potra; e vão se aproximando sem métodos de violência (cabresto, laço ou corda) para mostrar que o ser humano é amigo. O essencial nesse método é obter a confiança do cavalo. O professor Kael diz que existe uma conquista, e não uma doma em si. “Aos poucos o próprio animal vai diminuindo a distância, a medida que o laço se estreita. Os cavalos são animais muito sensitivos, gostam de carinho. Quando ele chegar na idade em que se faria a Doma Racional, haverá apenas a doma montada, pois o animal já está acostumado ao homem. A monta será bem mais rápida, não haverá o trauma do desmame, nem um processo de submissão; e o cavalo vai conseguir dar o melhor de si o resto da vida.”
Outras domas
O treinador e pesquisador de cavalos Monty Roberts desenvolveu a Doma Racional, na qual se doma o cavalo aos dois anos e meio de idade, sem utilizar nenhum método de violência, apenas comandos de voz, gentileza e paciência. Outra técnica famosa é o Imprinting, desenvolvida pelo veterinário americano Robert Miller. Nela, o ser humano tem contato com o animal desde o dia de seu nascimento, participando da criação da personalidade do cavalo, mostrando que o homem não é um predador, e sim um amigo.
O projeto desenvolvido no IFCE defende que a doma seja feita no momento do desmame do potro, aos seis meses de idade, quando a mãe já não tem mais leite suficiente. Segundo Rocha, a Doma Natural ao Desmame pretende aproveitar esse momento de carência do potro. “Acreditamos que a doma racional aos dois anos e meio seja tarde, porque a personalidade do cavalo já está formada. O Imprinting pode acarretar problemas na relação entre a égua e o filhote, já que é nos primeiros meses que ela ensina por onde é melhor de andar, o que é melhor para comer, como se defender. Resolvemos tentar na idade do desmame porque sabemos que nesse momento de separação da mãe o potro fica bastante carente, e o carinho que será dado pelo ser humano tanto diminui essa carência quanto pode tornar mais fácil a criação de um laço”, afirma o professor.