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Docente aborda desafios no ensino da Língua Portuguesa
ENTREVISTA
A experiência da professora Sara Regina Scotta Cabral na área de Letras agrega cerca de 40 anos de estudos e pesquisas que incluem o recente pós-doutoramento na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, onde abordou os processos verbais no discurso jornalístico. Sua trajetória envolve os variados aspectos relacionados à linguagem com foco em Língua Portuguesa.
Na véspera de sua passagem pelo campus de Crateús, onde apresenta a palestra de abertura do IV Seminário Interdisciplinar das Ciências da Linguagem (IV SIC), ela concedeu entrevista na qual expôs suas reflexões sobre os desafios para o ensino da Língua Portuguesa no Brasil, bem como sobre a contribuição dos gêneros textuais para prática do docente da área, dentre outras questões. Atualmente, Sara Regina Scotta é professora da Universidade Federal de Santa Maria, onde atua em cursos de graduação e de pós-graduação.
Quais os maiores desafios do ensino da língua portuguesa no Brasil?
Os maiores desafios do ensino de língua portuguesa no Brasil hoje estão na formação de professores, ou seja, nos cursos de Licenciatura do país. Em quase todas as universidades, os cursos de Licenciatura, entre eles, os de Letras, têm sofrido com o descaso que lhes é atribuído. Pouca é a valorização do curso tanto social quanto política, escassos são os recursos financeiros destinados a eles, o que engessa a atuação dos formadores e, por fim, muito modesta é a remuneração dos professores que atuam na escola básica.
Tal cenário permite falhas na formação dos futuros docentes, o que já é constatado pelos próprios alunos nos estágios que realizam a partir do quinto semestre do curso. A repercussão dessas falhas, em sala de aula, produz um ensino de língua portuguesa totalmemente alheio às necessidades dos alunos.
Qual o aspecto mais relevante da contribuição dos gêneros textuais para o ensino de línguas?
A grande contribuição do trabalho com os gêneros textuais na escola é o ensino da leitura e da escrita, além da formação da cidadania. Ao aprender a ler e escrever através dos gêneros, o aluno passa a ter consciência do que lê e do que escreve, pois o trabalho exige reflexão sobre suas palavras, seus atos e sobre as coisas do mundo. Rapidamente desenvolve o espírito crítico e dá-se conta de que é um cidadão em um determinado lugar e em um determinado tempo.
A Pedagogia de Gêneros é uma metodologia eficaz para melhorar os índices de desempenho dos alunos brasileiros nas avaliações internacionais.
Como avalia a profusão da prática textual em função da ampliação da acessibilidade aos meios de comunicação na atualidade, sobretudo as mídias sociais?
Avalio como positivo. A acessibilidade aos meios de comunicação vem contribuir para a ampliação e a democratização da informação. Apesar de, nesses meios, haver muito material sem valor algum, nunca foi tão fácil e próximo o conhecimento.
Cabe à escola promover trabalhos com gêneros variados buscados nas mídias e redes sociais, analisá-los e mostrar o que está bem ou mal escrito, o que é verdadeiro ou falso, o que é aceitável ou o que é descartável.
Enquanto canais de expressão dos discursos individuais e coletivos, os meios de comunicação têm sido suficientemente explorados como ferramentas educacionais?
Penso que essas ferramentas têm sido exploradas, mas acho que nem sempre adequadamente. Como respondi na pergunta 1 e pelas razões que apresentei, há uma grande falha na formação dos professores que atuam nas escolas. Essa falha acaba por comprometer o desempenho dos profissionais em serviço, que muitas vezes entram no mercado de trabalho e não têm formação adequada para lidar com os mais diversos discursos.
Em relação ao discurso jornalístico, um dos focos de seus estudos, qual a sua avaliação sobre o impacto que ele provoca no comportamento social, mesmo atualmente quando há uma maior profusão de fontes de informações que por vezes se contrapõem?
O impacto que o discurso jornalístico provoca na população em geral é muito grande. Como não há texto inocente, nem mesmo a notícia pretensamente imparcial, o discurso jornalístico acaba por ser o grande formador de opinião, seja ele impresso, falado ou mesmo escrito em sites na internet.
Um exemplo bem simples é a repercussão que o vírus da Zika tem tido atualmente. A imprensa tem insistido muito nesse tema, dizendo que o vírus provoca a microcefalia. A grande maioria da população já tomou essa informação como verdadeira, e ações estão sendo executadas em todo o país para combater o mosquito Aedes Egypti. Se conversarmos com qualquer neurologista, nenhum deles afirmará que o vírus transmite a doença. Todos são unânimes em dizer que essas conclusões são imaturas e que ainda não há pesquisa suficiente para comprovar o fato.
Elinaldo Rodrigues – Campus de Crateús