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Parceria produz respiradores mecânicos de baixo custo

Equipamentos deverão custar até 5% do valor médio dos modelos atuais
última modificação: 17/06/2020 16h12
Respirador mecânico de baixo custo em desenvolvimento (foto: Alexandre Maniçoba/Laboratório de Fotônica)

Respirador mecânico de baixo custo em desenvolvimento (foto: Alexandre Maniçoba/Laboratório de Fotônica)

Alinhado às ações de todo o mundo no enfrentamento à pandemia ocasionada pelo novo coronavírus, o Instituto Federal do Ceará (IFCE) tem desenvolvido diversas parcerias com o intuito de contribuir para o avanço das medidas em prol da saúde e do bem estar das pessoas. Em razão disso, o IFCE e o Instituto Federal de São Paulo (IFSP) se uniram para construir um protótipo de respirador mecânico de baixo custo para atender às demandas atuais dos ambientes hospitalares do País.

O Laboratório de Fotônica do programa de Engenharia de Telecomunicações do IFCE e o Laboratório Maxwell de Micro-ondas e Eletromagnetismo Aplicado do IFSP estão trabalhando em um projeto multi-institucional para contribuir com uma das maiores necessidades atualmente do Brasil, qual seja a aquisição de equipamentos de suporte respiratório especialmente utilizados em pacientes atingidos pela Covid-19. A iniciativa começou em março, período em que a pandemia foi decretada pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Segundo o pró-reitor de Pesquisa, Pós-graduação e Inovação (PRPI) do IFCE, Wally Menezes, que coordena parte da equipe voltada para esse fim no Ceará, “com a pandemia veio a necessidade de aquisição desses equipamentos e a consequente ausência de respiradores para atender à demanda no Brasil. Isso motivou o IFCE a iniciar a pesquisa, com a atuação conjunta de equipes de diversas áreas da saúde e de diversas instituições de pesquisa nos trabalhos realizados”, diz.

“O que é muito bom é que os resultados da pesquisa não servirão apenas para pessoas em tratamento da Covid-19. A tecnologia a ser desenvolvida se aplica a diversas necessidades, como as demandas de rotina dos centros cirúrgicos e de outras áreas de medicina e da saúde”, reforça Wally. Para além dos pesquisadores dos institutos federais, a ação envolve outros profissionais, como cirurgiões cardiovasculares, a exemplo de Juan Mejia, especialista em Extracorporeal Membrane Oxygenation (ECMO).

Para o médico, “esse esforço dos institutos federais e das equipes de especialistas unidos em função do desenvolvimento dos respiradores, algo simples e barato que fique à disposição de todos aqueles que precisem, é uma alternativa importantíssima para salvar vidas. Representa uma possibilidade para que não faltem ventiladores aos pacientes. O modelo poderá ser produzido em diferentes lugares, como alternativa aos sistemas de respiradores comuns, podendo auxiliar pacientes quando da realização de exames como tomografias em laboratórios de imagem, por exemplo”.

A fisioterapeuta intensivista Ingride Correia – docente-pesquisadora da UniChristus – também participa da equipe e garante que o desenvolvimento desses equipamentos de suporte à vida é de extrema valia e, para isso, a participação de uma equipe multidisciplinar envolvendo fisioterapeutas é imprescindível: “Esses profissionais são fundamentais no manejo do paciente crítico com Covid-19. Estamos fornecendo subsídios na construção desses ventiladores a partir das normas de regulamentação da Anvisa aliados à nossa experiência clínica”.

INÍCIO DO PROJETO

O pró-reitor Wally conta que “inicialmente, o Dr. Juan nos contatou por acreditar na contribuição do IFCE para esse projeto, visto que estava na linha de frente do enfrentamento ao novo coronavírus aqui no Ceará. A partir daí, envolvemos pesquisadores da Engenharia e da Física da instituição para trabalhar no mecanismo no respirador. Logo pudemos contar com a parceria do IFSP que integrou a pesquisa, pois é referência em eletromagnetismo e precisávamos de um centro de validação nessa área”, esclarece.

Assim, as forças de trabalho foram dividas entre as instituições, pelo que o IFCE desenvolveu e construiu a proposta, incluindo a análise das patentes relacionadas, e enviou para que o IFSP fizesse a parte estrutural e montasse o projeto, incluindo a impressão das peças e a testagem dos modelos. O diferencial do VentMeCovid19, nome dado ao projeto do protótipo, está no baixo custo do equipamento final. A expectativa é que o valor esteja entre 1% e 5% do preço médio dos respiradores disponíveis no mercado, atualmente.

Wally fala da satisfação: “Me orgulha muito fazer parte do IFCE e estar participando do desenvolvimento desse trabalho, pois, no momento em que a pandemia avança pelo interior, o instituto, pela sua capilaridade e diversidade de ações conjuntas entre professores, técnicos-administrativos e alunos, está ajudando justamente no enfrentamento da doença. São ações, desde lives e cartilhas de orientação, bem como pesquisas, fabricação de equipamentos e doação de insumos, que demonstram a grandeza da instituição para a sociedade”.

RELATO DE UM MÉDICO

"Depois de quase seis meses de iniciada efetivamente essa pandemia, posso manifestar que foi a necessidade de superar as limitações próprias de uma indústria nacional em relação à produção de equipamentos e insumos que levou esse grupo a enfrentar o problema. Houve uma imensa demanda de respiradores para atender a quantidade de pacientes da Covid-19 precisando de um suporte ventilatório, porque realmente a função pulmonar havia sido atingida em uma magnitude que as terapias convencionais de tentativa de aumento da oxigenação do sangue eram insuficientes. O que tínhamos nesses momentos iniciais, a rigor, era muito parecido com o que havia acontecido em outros países. A necessidade de compra de respiradores era numa demanda maior que a oferta. Logo, era preciso resolver o problema localmente. Foi aí que entrou essa parceria com o IFCE, com profissionais de saúde incluindo médicos da cirurgia cardíaca, fisioterapeutas, otorrinolaringologistas, profissionais de imagem... nos agrupamos para avaliar meios de contribuir e aliviar esse problema. A experiência de décadas como cirurgião cardíaco me fez lembrar a época de residência em São Paulo, na qual observava pacientes levados para o pós-operatório submetidos a respiradores mecânicos relativamente muito simples, que funcionavam à pressão. Um mecanismo que salvou muitas vidas quando os respiradores mais modernos que davam algum tipo de problema eram consertados. O modelo, intitulado Takaoka – em homenagem ao idealizador desse equipamento – era conhecido entre a gente como “bolacha”, pesada uns 350 gramas e permitiu a vida para muitas pessoas. Quando vim pro Ceará na década de noventa, ainda conseguimos utilizar esses Takaokas. Depois, os ventiladores mais modernos, cheios de sensores, fizeram esquecer esses modelos. Agora, pensamos: “por que não atualizar uma versão mais atualizada desse respirador que também funcionava?” Fomos atrás de recuperar onde havia ainda esses modelos em São Paulo e conseguimos alguns. A partir daí mostramos o modelo aos técnicos, engenheiros e físicos do IFCE, com a ajuda da professora Ingrid, técnicos do IFSP e profissionais de outros estados. Mostramos o aparelho simples e a equipe conseguiu atualizar funções eletromagnéticas, com um sistema mais versátil, para utilização dele com maior segurança. Tudo isso representa um esforço comum entre muitos interessados, cuja pandemia nessas proporções envolveu a todos, demonstrando que existe uma massa crítica no país capaz de criar novos sistemas e novos processos. Gostei da postura do IFCE que demonstrou que essa solução poderia ir pra a área da automação", Juan Mejia.

Deborah Sampaio - reitoria IFCE