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IFCE debate enfrentamento do racismo institucional

DIÁLOGOS ÉTNICO-RACIAIS

Pró-reitoria de Extensão realizou exposição dialogada na última sexta-feira
última modificação: 11/12/2018 07h24

A Pró-reitoria de Extensão do Instituto Federal do Ceará (IFCE) realizou na manhã do dia 7 de dezembro de 2018, no auditório da Reitoria, a exposição dialogada sobre Racismo Institucional no âmbito educacional: como enfrentar? A segunda edição dos Diálogos Étnico-raciais teve o objetivo de ampliar o processo de formação de servidores e estudantes do IFCE, assim como da comunidade externa, em relação à temática dos Direitos Humanos.

O evento contou com as falas da professora Tatiana Paz Longo (Boa Viagem), do estudante Romário Holanda (Fortaleza), da assistente social Mayara Medeiros (Canindé) e da pedagoga Ana Claudia Uchoa Araújo (Pró-reitoria de Ensino). O debate foi mediado pela professora Valéria Correia Lourenço (Crateús).

Na abertura do evento, a pró-reitora de extensão, Zandra Dumaresk, reconheceu e exaltou o ano de 2018 como importante por ter sido repleto de iniciativas realizadas pelos 19 Núcleos de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabis). Ela comentou sobre a importância da campanha IFCE contra o racismo, realizada em novembro. “Se a sociedade brasileira é racista, é papel do IFCE ajudar a desconstruir esse racismo institucional”, afirmou.

Em sua fala, a professora Tatiana Paz definiu os tipos de racismo - individualista, institucional e estrutural - e suas consequências pessoais e coletivas. Ela defendeu a “descolonização dos currículos do IFCE” com a inclusão de autores negros e a ocupação dos espaços de poder com uma maior proporcionalidade de gênero e diversidade. “Somos 54% da população brasileira e precisamos ocupar esses espaços”, afirmou.

Já Romário Holanda, estudante da licenciatura em Teatro e integrante do Neabi do campus Fortaleza, propôs mais autonomia para os núcleos, mais acolhimento aos participantes dos cursos de extensão, muitas vezes barrados nas portarias dos campi. Ele também sugeriu que os Neabis ajudassem na proposta de novas disciplinas regulares, para que mais pessoas passem a “conhecer e reconhecer os saberes indígenas e das negritudes”.

A assistente social Mayara Medeiros abordou o enfrentamento do racismo institucional através da formação dos professores. Para ela, a escola pública recebe os filhos das classes trabalhadoras, majoritariamente negros e pardos, e precisa de uma postura ativa no combate aos preconceitos, às discriminações e ao racismo. “Os professores precisam estar minimamente preparados para lidar com essas questões em sala de aula. A gente precisa educar negros e brancos em prol da igualdade racial”, afirmou.

Ana Cláudia afirmou que as narrativas que chegam aos estudantes são “filtradas” e enfatizou a necessidade de realizar uma “tarefa coletiva” em prol de alterar o desenho curricular “eurocêntrico, branco e machocêntrico” e incluir outras cosmovisões de mundo. A pedagoga questionou porque não se estudam as formas como os povos originários usavam a química nos seus medicamentos, como eles percebiam a geografia dos seus territórios, como lidavam com os conceitos matemáticos em suas colheitas, caças e confecção de artefatos e vestimentas etc.

Mediadora, a professora Valéria Correia Lourenço (Crateús) iniciou o debate com diversos questionamentos sobre o impacto do racismo institucional no cotidiano dos brasileiros.  “Quantos professores negros vocês já tiveram? Quantos médicos e dentistas negros já atenderam vocês? Além de procuradores, promotores e juízes negros?” Para ela, a ausência de negros nos espaços de poder só pode ser rompido com educação e oportunidades.

Nos últimos anos, o IFCE tem realizado uma série de ações em prol do cumprimento das ações afirmativas previstas em lei, que resultaram em estudos ações de valorização das ancestralidades indígenas e afrobrasileiras e de discussão racial, sobretudo após a entrada, por cota, de um número maior professores e técnicos-administrativos negros nos últimos concursos. Em novembro, o instituto realizou a campanha audiovisual IFCE contra o Racismo.

Cláudia Monteiro, jornalista da Reitoria do IFCE