Campus de Boa Viagem é referência para semiárido cearense

No último dia 26 de março, foi aprovada a dissertação de mestrado de Sérgio Luiz Silva Soares, orientada pelos professores João Paulo Arcelino do Rego, atual diretor-geral do campus de Boa Viagem, e Patrícia Pimentel, do departamento de Zootecnia da UFC. A dissertação trata da "Avaliação nutricional, desenvolvimento e características moformétricas de cordeiros de diferentes grupos genéticos terminados em Sistema de Integração Lavoura-Pecuária com suplementação em Região Semiárida".

A pesquisa foi desenvolvida dentro do projeto "Integração Lavoura-Pecuária no Semiárido Nordestino", de autoria de João Paulo, em colaboração com o município de Tauá e financiada pelo CNPq. O projeto traz novos enfoques para a utilização dos sistemas integrados de produção no semiárido. "A pesquisa foi inovadora para definir conceitos de sistemas integrados para o semiárido e já está disponível para aplicação por qualquer produtor da região" afirma João Paulo.

Em 2015, um experimento agropecuário realizado na Região dos Inhamuns comprovou que é possível manter uma criação de ovinos no semiárido por meio do fornecimento de forragem e de grãos, mesmo em áreas reduzidas e de lavoura de sequeiro (aquelas que dependem exclusivamente de água das chuvas).

O projeto foi testado na quadra chuvosa de 2015 e os resultados foram animadores. Na área experimental, de um hectare, choveu apenas 246 mm de janeiro a junho passado. O sistema foi implantado naquele mês de março, quando foi verificada menor pluviometria (172 mm), e "mesmo com as condições desfavoráveis, conseguimos produzir onze toneladas de forragem", disse João Paulo Arcelino, que fez pesquisa para doutorado na Austrália, em realidade semelhante à do sertão cearense.

Além da produção de forragem, o projeto também testou se a quantidade colhida era suficiente para engordar os cordeiros, o que se provou verdadeiro para 28 animais (14 da raça Santa Inês e 14 da raça Somalis brasileira). Os pesquisadores foram surpreendidos com a velocidade de ganho de peso dos cordeiros. "Chegamos ao resultado em 53 dias", comemorou João Paulo Arcelino. "Foi uma surpresa, em um tempo recorde". Todas as análises de desempenho e a qualidade da carne produzida no novo modelo foram verificadas.

O Sistema de Integração Lavoura-Pecuária trouxe um novo enfoque produtivo para o semiárido: produzir forragem com o mínimo de chuvas; alimentar os cordeiros em curto espaço de tempo; oferecer uma tecnologia simples aplicada ao setor produtivo. 

Segundo João Paulo, todos os dados da pesquisa foram cuidadosamente mensurados e avaliados por uma equipe multidisciplinar, que envolveu especialistas de renome internacional. "Nossa tecnologia, desenvolvida no município de Tauá, com os animais de interesse para a região, vai gerar um grande impacto econômico, social e cultural nos sistemas de produção ora vigentes na região", aposta.

De posse dos resultados de produção de grãos, desempenho dos animais e qualidade de carne, o grupo pesquisador está otimista e acredita na contribuição para gerar um grande impacto tanto na academia pela participação dos alunos do curso técnico, quanto no campo pela aplicabilidade do sistema inovador.

"É uma tecnologia inovadora, mas simples, que pode ser aplicada em qualquer área de produção de grãos, capim e de criação de ovinos, comuns na nossa região", explica João Paulo. Para ele, o modelo tradicional de criação, herdados dos pais e avós, utilizado no semiárido nordestino, é de baixa produtividade e reduzido uso de tecnologia.