Desperdício não: o gesso também pode ser reaproveitado
Uma pequena reforma em casa é suficiente para nos fazer perceber o quanto se gera de resíduo de construção e como é necessário dar um destino adequado ao material. Pesquisas na área apontam que o desperdício de materiais nos canteiros de obras fica entre 7 e 8%, enquanto o gesso - muito utilizado no Nordeste - pode chegar ao índice de 45% de perdas.
Partindo de sua experiência como gestora da área de Manutenção e Infraestrutura do campus de Fortaleza do IFCE, a servidora Mara Zelândia decidiu abraçar uma pesquisa com foco na avaliação da qualidade do gesso reciclado. Intitulada "Reciclagem de resíduos de gesso de revestimento: uma alternativa tecnológica de minimização dos impactos ambientais na construção civil", a investigação concluiu que os resíduos de gesso podem ser utilizados, resguardando suas qualidades técnicas em comparação ao gesso comercial e atendendo às especificações técnicas para uso na Construção Civil.
Conduzido durante o Mestrado em Tecnologia e Gestão Ambiental do IFCE, sob orientação dos professores doutores Adeildo Cabral (Construção Civil) e Rinaldo Araújo (Química), Mara fez ensaios de desidratação dos resíduos de gesso, avaliou a composição química do material reciclado, analisou a granulometria e a massa do mesmo, determinou a relação água/gesso e testou tempo de pega e de resistência à compressão, à tração e à aderência.
Toda essa checagem serviu para confirmar a viabilidade da reciclagem dos resíduos de gesso de revestimento. O material pode ser reintegrado à produção por meio dos revestimentos internos (acabamento ou reboco) ou transformado em placas para isolamento acústico e/ou térmico, blocos de alvenaria, o que facilita também a destinação correta desses produtos.
Segundo Zelândia, ao longo da pesquisa, a reciclagem foi de 100% do gesso, mas um menor percentual pode ser misturado sem qualquer prejuízo para a qualidade do produto. Esse aproveitamento do gesso apresenta vantagens indiscutíveis, como o baixo custo e a utilização de material ambientalmente correto.
O gesso é produzido a partir da extração de gipsita encontrada em jazidas naturais. O resíduo do gesso é tóxico e capaz de contaminar o lençol freático. Seu acondicionamento e destino merece todo cuidado, tendo em vista suas características inflamáveis e de liberação de gás sulfúrico. As regras para gestão do resíduo de gesso estão contidas na Política Nacional de Resíduos Sólidos, enquanto a resolução nº 307/02 do Conselho Nacional do Meio Ambiente autorizou a reutilização e reciclagem do gesso (classe B).