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A construção do espaço para a pesquisa ambiental

última modificação 14/02/2019 09h53
As investigações evoluem e ganham corpo com a troca de conhecimento por meio das parcerias internacionais

Nesta oportunidade entrevistamos um dos mentores do Mestrado em Tecnologia e Gestão Ambiental, professor Adeildo Cabral, engrossando o coro da comemoração dos 10 anos do programa e da 100ª defesa deste programa de pós-graduação.

Adeildo nos conta, a seguir, um pouco sobre a implantação do curso e sobre as pesquisas gestadas dentro do Laboratório de Energias Renováveis e Conforto Ambiental - LERCA.

CCS - Você pode falar um pouco sobre como surgiu o LERCA e qual sua visão de futuro para ele?

Professor Adeildo – Ao longo dos 15 anos de sua existência, o LERCA abrigou alunos de ensino técnico, graduação, licenciaturas, especialização, mestrado e doutorado que permitiram, em conjunto com os professores orientadores, desenvolver trabalhos voltados às temáticas em energia, meio ambiente, conforto ambiental e áreas protegidas. Houve um constante e bem qualificado crescimento acadêmico.

A nossa primeira colaboração internacional de pesquisa foi em 2005 com a Universidade Autônoma de Chiapas, no México, com o professor Gabriel Castaneda Nolasco, um grande parceiro e colaborador do PGTGA [Programa de Pós-graduação em Tecnologia e Gestão Ambiental]. Há uma perspectiva forte de consolidar a internacionalização do LERCA. Temos convênios internacionais com três universidades [de Aveiro, do Porto e Autônoma de Chiapas], que nos renderam importantes cooperações.

Já ouvimos de alguns colegas que o nosso convênio em Portugal é um dos mais consistentes da instituição. Ele vem desde 2008, quando da cooperação científica entre os dois países na época do CINPAR [Congresso Internacional sobre Patologia e Recuperação de Estruturas]. Em 2014, quando estive em Portugal fazendo meu pós-doutorado, nos foi dada uma missão institucional de levar mais colegas para colaborar com essa capacitação e com essa mobilidade internacional, e o convênio se consolidou.  

CCS - A articulação internacional é fundamental...

Professor Adeildo - A tendência mundial são parcerias internacionais. Os órgãos de fomento pontuam as colaborações internacionais, que são elementos-chave para o crescimento tanto do laboratório quanto dos programas de pós-graduação e da instituição. É importante, porque você está num grande centro de pesquisa e porque há troca de experiências exitosas, especialmente com a colaboração em publicações. Com essa atividade conjunta, conseguimos dar um salto de qualidade na nossa produção acadêmica.

 CCS - Os projetos gestados no LERCA abrangem quais áreas?

Professor Adeildo - A ideia inicial era trabalhar com energias renováveis e meio ambiente. Nesse primeiro momento, se começou a trabalhar fortemente com células fotovoltaicas, avaliação de painéis e eficiência energética.  Ainda desenvolvemos trabalhos e investigações aqui nesse sentido. Hoje nós temos em andamento um projeto muito importante com a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Governo Federal e com a Instituição alemã GIZ na área de Eficiência Energética. Isso é fruto do trabalho desenvolvido na parte de conforto ambiental, de uso eficiente e sustentável do ambiente construído. Era uma tendência naquela época. O laboratório está preparado para novos desafios e para o desenvolvimento tecnológico e tem contribuído para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Na área de meio ambiente, estamos envolvidos em pesquisas relacionadas aos instrumentos de gestão ambiental, de gestão urbana, de gestão de recursos hídricos, de gestão de resíduos sólidos.

AldeildoCCS - A pesquisa é sempre um trabalho de equipe?

Professor Adeildo - Sem equipe não há pesquisa. Em cada grupo de pesquisa, você agrega o pesquisador, estudantes, os colaboradores de instituições nacionais e internacionais. Em alguns casos, nós já temos ex-alunos, que eram do grupo de pesquisa como estudantes, e hoje são doutores na área.

CCS - Os pesquisadores têm perfis específicos? O brasileiro tem as mesmas funções que os demais?

Professor Adeildo - O pesquisador brasileiro se diferencia principalmente do pesquisador europeu e daquele dos Estados Unidos, porque ele conduz o projeto praticamente em todas as vertentes. Desde a fase da concepção do projeto, submissão a agências financiadoras, administração dos recursos, dos materiais e, dependendo da carência, as adaptações. É uma dedicação bem ampla. Portanto, na maioria dos casos, a tarefa do pesquisador brasileiro excede em atividades a dos demais pesquisadores no mundo.

No caso do IFCE, nós somos investigadores emergentes. Nosso grupo é formado por jovens pesquisadores. É tanto que o LERCA, um laboratório que vou chamar de antigo no campus de Fortaleza, tem 15 anos. Nós o consideramos ainda em construção, porém a nossa produção acadêmica alcançou resultados importantes, comparando com outros laboratórios bem mais estruturados. Temos um grupo de pesquisadores bem atuantes. A dedicação à pesquisa pode gerar objetivamente Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, estágios de alunos, ou o aluno aplicar o conhecimento adquirido diretamente na empresa em que ele trabalha, ou ainda direcionar suas ações para a produção acadêmica, como fazer um mestrado ou doutorado. É no ambiente do laboratório e da pesquisa que nasce tudo isso.

CCS - Quais as principais pesquisas desenvolvidas no LERCA?

Professor Adeildo - Na parte de energia e meio ambiente, temos um trabalho extremamente relevante sobre eficiência energética. Por muito tempo, o LERCA foi um dos poucos laboratórios em Fortaleza que produziram conhecimentos por meio de artigos e relatórios técnicos na área de conforto térmico e acústico para ambiente construído. Hoje, o laboratório ainda é referência nessa área de estudo.

Nós temos atualmente um problema muito sério de eficiência energética das edificações, ligado ao alto preço da energia e às condições climáticas. Temos também um problema muito grave com isolamento acústico pela quantidade de veículos circulando na cidade e pela elevada concentração de ruído produzido em algumas áreas de Fortaleza, como exemplos, o entorno do aeroporto internacional e a Avenida Treze de Maio, uma avenida de grande circulação de veículos e objeto de nossas investigações durante mais de uma década. Isso passa a ser um pré-requisito importante para atender às normas brasileiras de desempenho de edificações habitacionais: ABNT NBR 15575 (2013).

 

LERCA conta com quatro grupos de pesquisa, certificados pelo CNPq.

Na parte de meio ambiente, é o grupo de pesquisa da professora Nájila Rejanne Julião Cabral que trata de áreas protegidas. Inclusive temos parceria consolidada com a Escola de Engenharia de São Carlos. Há dois anos, esse grupo recebeu uma menção honrosa do Governo do Estado [do Ceará], porque há 10 anos se trabalha com o Programa Selo Município Verde, um indicador de qualidade ambiental dos municípios cearenses.

Também colaboramos, na área de meio ambiente, com algumas atividades do Governo do Estado, da Prefeitura Municipal [de Fortaleza]. Tentamos colaborar com a gestão da cidade, participando da câmara setorial de energias renováveis, mudanças climáticas, da educação ambiental, de agricultura urbana entre outras.

Outro grupo do nosso Laboratório atua no Centro de Avaliação do Ciclo de Vida do Produto. A ACV é uma ferramenta importante para avaliar o impacto ambiental de bens e serviços. No mundo, apareceu nos anos 60. O objetivo é avaliar o produto desde a sua extração, produção, até o descarte, na proposta atual do método do berço ao berço. Então, o laboratório também é pioneiro nessa área; ainda temos poucos grupos trabalhando com esse tema aqui no Ceará.

O último grupo é o de Sustentabilidade e de Gestão em Tecnologia na Engenharia, principalmente na Engenharia Civil, lembrando que o nosso curso de Engenharia Civil é bem recente. Tem menos de 6 anos. O grupo de pesquisa é coordenado pelos professores Davi Teixeira e Sérgio Santos. É uma atividade que mexe principalmente com a gestão da construção civil. A ideia é que esse grupo tenha um grande envolvimento com a indústria da construção civil.